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PERSPECTIVAS E DESAFIOS DA CIBERSEGURANÇA NO BRASIL: ENTRE A TRANSFORMAÇÃO DIGITAL E A NECESSIDADE DE COORDENAÇÃO NACIONAL

A transformação digital permeia hoje todas as dimensões da vida em sociedade. A consolidação do uso de tecnologias da informação e comunicação como base para interações pessoais, econômicas e institucionais não apenas moldou novos modos de viver, mas também tornou visível a urgência da proteção desse ambiente. Se a digitalização tornou-se um vetor de desenvolvimento, a segurança desse meio se impõe como requisito fundamental para sua continuidade.

A confiança nas tecnologias depende diretamente da sua segurança. Sistemas instáveis, sujeitos a invasões, fraudes e paralisações, comprometem desde o acesso a serviços públicos até o funcionamento de infraestruturas essenciais, o que torna indispensável o fortalecimento das políticas de cibersegurança. Ao longo das duas últimas décadas, diversas iniciativas foram estruturadas para responder a esse desafio, incluindo estratégias nacionais, políticas públicas e mecanismos de coordenação interinstitucional.

Dentre os avanços mais relevantes, destacam-se a formulação da política nacional de cibersegurança e a criação de um comitê responsável por sua implementação. Esse comitê é composto por representantes do poder público, da sociedade civil organizada, da academia e do setor privado, o que demonstra a tentativa de consolidar uma abordagem multissetorial para o tema. A partir de sua instalação, grupos técnicos passaram a atuar em diferentes frentes, como a revisão de estratégias, a proposição de estruturas institucionais e a atuação internacional do país.

Há, contudo, um ponto de inflexão importante. Embora o arcabouço normativo tenha evoluído, a ausência de um marco legal aprovado pelo Parlamento e de uma entidade com autoridade legal para coordenar e executar as políticas públicas limita a eficácia das ações. A fragmentação entre diferentes órgãos e esferas da administração dificulta a articulação e a execução de medidas integradas. A proteção de ativos digitais não pode mais depender apenas de estratégias esparsas ou respostas reativas.

A proposta de criação de uma entidade própria para tratar da governança da cibersegurança no Brasil encontra eco em diferentes setores. Modelos de autarquia especializada ou agência reguladora têm sido debatidos com maior intensidade, com base na compreensão de que a proteção do espaço digital exige competências específicas, capacidade técnica e autonomia decisória. As diferentes propostas formuladas já foram encaminhadas para avaliação e, à medida que se avança nesse debate, aumenta-se também a responsabilidade dos Poderes Executivo e Legislativo em estruturar essa política de forma duradoura.

Um país com a dimensão do Brasil e sua complexidade federativa não pode depender apenas de medidas infralegais para enfrentar riscos cibernéticos. A resiliência digital precisa ser tratada como uma política de Estado, com articulação entre os entes federativos, mecanismos permanentes de governança e instrumentos legais que promovam direitos, obrigações e parâmetros técnicos claros.

A realidade internacional reforça a urgência do tema. Casos recentes em outros países mostraram o impacto econômico profundo de ataques cibernéticos. Estima-se que as perdas globais causadas por incidentes digitais ultrapassam trilhões de dólares por ano, e alguns governos já apontaram perdas bilionárias associadas à falta de prevenção e resposta eficiente. A ausência de uma estrutura nacional de cibersegurança pode representar não apenas risco operacional, mas também ameaça à estabilidade econômica e à confiança da população.

No âmbito legislativo, a criação de uma frente parlamentar dedicada à cibersegurança e à defesa digital demonstra que há espaço para avanços institucionais. Essa convergência de esforços entre o Poder Executivo e o Parlamento abre uma oportunidade rara para consolidar um modelo funcional, estável e adaptado à realidade brasileira. A experiência recente demonstra que ações fragmentadas e reativas não têm sido suficientes. É necessário, portanto, um novo patamar de atuação.

A construção de uma política nacional de cibersegurança eficiente requer, além de coordenação institucional, investimentos contínuos em capacitação, educação digital e conscientização pública. A criação de materiais educativos, guias técnicos para setores estratégicos e centros de compartilhamento de informações são passos relevantes nesse caminho, mas ainda dependem de uma estrutura normativa sólida que sustente essas iniciativas a longo prazo.

Tratar a cibersegurança como um componente essencial da vida moderna é mais do que uma escolha política. É uma necessidade jurídica, econômica e social. O momento atual exige coragem institucional e compromisso intersetorial para transformar diretrizes em estruturas permanentes, com base legal robusta e gestão eficiente. O Brasil tem a oportunidade de avançar nesse campo, desenvolvendo uma política própria, voltada à sua realidade e capaz de proteger seu ecossistema digital de forma abrangente e eficaz.

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ATAQUE CIBERNÉTICO EXPÕE FRAGILIDADE EM SERVIÇOS TERCEIRIZADOS DO SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL

Na terça-feira, 1º de julho, uma investida cibernética contra a C&M Software, empresa que presta serviços de liquidação interbancária para diversos participantes do sistema financeiro, desviou valores estimados em cerca de R$ 400 milhões mantidos em contas-reserva no Banco Central (BC). Essas contas funcionam como “cofres” exclusivos para acertos entre bancos, distantes dos depósitos de clientes e dos saldos de cartões ou investimentos.

Por que os usuários finais não correm risco imediato?
As contas-reserva não armazenam dados de titulares de conta corrente, nem transitam informações de cartão ou aplicações. A operação da C&M Software limita-se à compensação entre instituições, servindo de contrapeso a saques e depósitos diários. Até o momento não há sinais de vazamento de bases de dados comerciais ou pessoais. O BC, preventivamente, desconectou a empresa de seus sistemas até que a investigação esclareça a brecha explorada e defina correções.

Impacto para as instituições financeiras
O prejuízo atinge diretamente os participantes cujas contas foram alcançadas. Embora o montante seja expressivo, os bancos contam com reservas e seguros próprios para absorver perdas dessa natureza, evitando repasse aos consumidores. O foco agora está na apuração da vetorialidade do ataque: evidências apontam para um mapeamento minucioso da infraestrutura terceirizada, explorado no instante considerado mais vantajoso pelos criminosos.

Reflexos na confiança do mercado
Mesmo sem repercussão sobre correntistas, o evento macula a reputação do ambiente financeiro nacional, reconhecido mundialmente pela sofisticação de soluções como o Pix. O episódio mostra que a robustez tecnológica dos bancos precisa ser acompanhada por fiscalizações constantes sobre provedores terceirizados que movimentam sistemas sensíveis. Investimentos em resiliência cibernética, testes de intrusão contínuos e governança rígida sobre fornecedores tornaram-se imperativos.

Próximos passos
O Banco Central conduz a investigação em conjunto com órgãos de segurança e instaurou protocolos para bloquear tentativas de operação semelhantes. As instituições atingidas também realizam auditorias internas, revisam contratos com prestadores e fortalecem barreiras de autenticação.

Embora o público em geral esteja protegido nesta fase, o desdobramento servirá de termômetro para avaliar se processos de homologação e monitoramento de terceiros acompanham a velocidade de inovação do sistema de pagamentos brasileiro.

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CIBERCRIMES: A IMPORTÂNCIA DA CULTURA DE SEGURANÇA NAS ORGANIZAÇÕES BRASILEIRAS

No Cyber Security Summit 2024, em São Paulo, foi revelado que o Brasil registrou um impressionante número de mais de 700 milhões de ataques cibernéticos no último ano, representando uma média de 1.379 ataques por minuto. Esse volume coloca o país em uma posição alarmante: segundo lugar no ranking mundial de cibercrimes.

Esse cenário ressalta uma crescente sofisticação das ameaças digitais, especialmente com o avanço de tecnologias como a inteligência artificial (IA). Cada vez mais complexos, esses ataques exigem que empresas e colaboradores adotem medidas de proteção adequadas para proteger suas informações.

Nesse contexto, a segurança cibernética surge como uma responsabilidade compartilhada, que vai além da implementação de tecnologias robustas. É crucial incorporar práticas de conscientização e capacitação entre os colaboradores, fortalecendo a cultura de segurança dentro das organizações. Embora as ferramentas tecnológicas sejam fundamentais para a proteção, uma abordagem que se concentre exclusivamente nelas pode falhar em garantir a resiliência total contra as ameaças.

Para combater o crescente número de ataques, a integração da segurança no dia a dia das empresas é essencial. Isso inclui processos e campanhas que sensibilizem os colaboradores, criando uma mentalidade preventiva e fortalecendo o entendimento sobre os objetivos dos invasores. Um treinamento psicológico voltado para a cibersegurança, por exemplo, ajuda a preparar os funcionários para reconhecer e evitar golpes, reduzindo a vulnerabilidade frente às técnicas de engenharia social.

Com a soma de tecnologia e conscientização, empresas podem desenvolver uma postura mais resistente aos ataques, integrando a segurança cibernética não apenas como uma ferramenta, mas como um valor essencial no ambiente corporativo.

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DESAFIOS E CAMINHOS DA SEGURANÇA CIBERNÉTICA: CISOS E O COMBATE ÀS VIOLACÕES DE DADOS E AMEAÇAS INTERNAS

No Universo da Segurança Cibernética: Desafios e Soluções para CISOs” À medida que a cibersegurança se torna uma batalha cada vez mais complexa, os Chief Information Security Officers (CISOs) enfrentam um cenário repleto de riscos iminentes, desde ameaças internas até temíveis ataques de ransomware. Paralelamente, eles lideram iniciativas em prol da segurança da infraestrutura, adotam estratégias de prevenção de ataques e aplicam práticas avançadas, como a arquitetura de rede de zero trust.

A pressão sobre os CISOs é evidente, pois 88% deles relatam altos níveis de estresse, com metade enfrentando problemas de saúde mental e um terço lidando com questões físicas relacionadas ao trabalho. A batalha contra ciberataques e violações de dados é incessante, e os impactos podem ser devastadores.

Violações de dados podem adquirir diferentes formas, seja em termos do número de usuários afetados, das consequências financeiras ou da natureza delicada das informações expostas. Não surpreende, portanto, que a liderança de segurança da informação esteja sob pressão. A lista das 10 maiores violações de dados reflete a diversidade e gravidade das ameaças, reforçando a necessidade de vigilância constante.

Um exemplo marcante é a violação de dados do Yahoo em 2013, afetando três bilhões de contas de usuários. O incidente prejudicou a aquisição iminente da Verizon e ilustrou o desafio de manter a confiança dos clientes após violações de dados. Também merece destaque a violação de dados da Aadhaar em 2018, que abalou a confiança na maior base de identificação do mundo, expondo a fragilidade de sistemas aparentemente robustos.

A complexidade do cenário é visível na sequência de violações, incluindo marcas como LinkedIn, Facebook e Equifax. A violação da Capital One em 2019, causada por acesso privilegiado inadequado, evidenciou a importância da implementação correta da abordagem Zero Trust.

As melhores práticas para CISOs abrangem uma série de frentes. A prevenção de ataques cibernéticos deve ser central em todas as estratégias, com a rede Zero Trust atuando como aliada na limitação de ameaças internas e externas. A proteção contra malware empresarial é essencial, e a seleção criteriosa de fornecedores é fundamental.

Os desafios podem ser superados. A eliminação de pontos cegos do Zero Trust, causados pela criptografia SSL/TLS, é uma necessidade. A inspeção de tráfego criptografado e o investimento em soluções de segurança cibernética avançada são passos vitais para manter os dados protegidos.

Embora a jornada de um CISO seja árdua, com a adoção de estratégias adequadas e o uso das ferramentas certas, eles podem fortalecer a resistência de suas organizações contra ameaças cibernéticas. O caminho para proteger dados sensíveis e evitar violações é repleto de desafios, mas a expertise e o compromisso dos CISOs têm o potencial de transformar esse cenário.