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FRAUDES DIGITAIS COM INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL: COMO IDENTIFICAR E PREVENIR MANIPULAÇÕES COM DEEPFAKE

O avanço das ferramentas de inteligência artificial vem transformando profundamente o ambiente digital. Em especial, o uso de tecnologias conhecidas como deepfake, que permitem a manipulação extremamente realista de imagens, vídeos e áudios, tem impulsionado novas formas de fraude e criado riscos concretos para empresas e indivíduos. O que antes era domínio de especialistas técnicos tornou-se acessível a qualquer pessoa com um smartphone e uma conexão à internet.

As práticas de engenharia social, quando combinadas com conteúdos forjados por inteligência artificial, ganharam um grau de sofisticação que dificulta a identificação de tentativas de golpe. É possível simular com alta fidelidade a voz de um familiar, o rosto de um executivo ou até mesmo cenas inteiras que parecem autênticas a olho nu. O impacto dessas fraudes já se reflete no cotidiano de profissionais, consumidores e instituições públicas e privadas.

Empresas relatam casos em que falsas videoconferências com “executivos” resultaram em transferências indevidas de valores. Em outros episódios, mensagens de áudio supostamente enviadas por superiores hierárquicos foram usadas para acelerar decisões de pagamento sem os devidos protocolos de validação. Também são cada vez mais comuns os relatos de cidadãos que receberam pedidos de ajuda financeira em nome de parentes, com vozes idênticas às dos seus entes queridos, gerando perdas financeiras e abalos emocionais.

A disseminação dessas práticas foi impulsionada pela disponibilidade de aplicativos que replicam vozes e criam vídeos personalizados em poucos minutos. A barreira técnica praticamente desapareceu, o que amplia o uso dessas ferramentas com finalidades ilícitas.

A preocupação não se limita ao ambiente corporativo. Famílias, consumidores e usuários de redes sociais também estão expostos. Um conteúdo audiovisual fabricado pode ser compartilhado em massa com objetivos que vão desde o golpe financeiro até a destruição de reputações. Em períodos de alta sensibilidade, como eleições e eventos esportivos, a disseminação de vídeos e áudios falsos pode confundir a opinião pública e manipular decisões.

Algumas medidas podem reduzir significativamente o risco de ser enganado por esse tipo de fraude. Uma prática essencial é a verificação cruzada de qualquer solicitação financeira. Se uma mensagem indicar urgência para pagamento ou transferência, o ideal é confirmar por outros meios, como uma ligação telefônica ou uma conversa presencial. Sinais como mudanças abruptas no padrão de linguagem ou pedidos fora do usual merecem atenção redobrada.

No contexto empresarial, treinamentos voltados para a identificação de ameaças digitais devem incluir simulações e exemplos reais de manipulação por deepfake. Ferramentas que integram autenticação biométrica com validação algorítmica podem ajudar, embora ainda não sejam infalíveis.

Enquanto empresas de tecnologia seguem investindo em soluções de detecção automática de falsificações, cabe a cada usuário e organização desenvolver um olhar crítico e adotar uma postura de vigilância contínua. O simples hábito de desconfiar do incomum e validar informações sensíveis por mais de um canal é um passo valioso na proteção contra golpes digitais.

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GOLPE DA “CNH SOCIAL DIGITAL” UTILIZA NOME DE ÓRGÃOS PÚBLICOS PARA ENGANAR CIDADÃOS

Um novo tipo de golpe tem circulado pelas redes sociais, utilizando o nome da CNH Social como isca para obter dados pessoais e dinheiro de cidadãos de baixa renda. A promessa é atraente: a obtenção gratuita da primeira Carteira Nacional de Habilitação, supostamente oferecida por meio de parceria entre o Governo Federal, os Departamentos Estaduais de Trânsito (Detrans) e autoescolas credenciadas.

A fraude se apresenta com aparência profissional. As mensagens, divulgadas em redes sociais, levam a uma página que imita o layout de portais de notícias conhecidos. Os textos informam que o suposto benefício teria sido lançado em 1º de maio e convidam os interessados a se inscreverem por meio de links com chamadas como “Solicite agora”. A página seguinte simula um portal do governo federal e exige que o usuário preencha informações como CPF, nome completo, telefone e e-mail. Na sequência, surge uma cobrança de taxa no valor de R$ 58,71, supostamente destinada a “evitar solicitações indevidas”. Também são exibidos nomes de centros de formação de condutores, induzindo o usuário a acreditar que já está com uma vaga garantida.

É importante destacar que, quando existe, o benefício da CNH Social é gratuito. O Detran de São Paulo, por exemplo, já esclareceu que não participa desse programa e que não solicita pagamentos por meio de PIX ou por plataformas externas. A prática relatada configura golpe, com objetivo de obter dados pessoais e valores indevidos, além de potencial risco de uso indevido das informações coletadas.

Quem foi vítima da fraude deve registrar boletim de ocorrência na Delegacia Eletrônica da Polícia Civil (delegaciaeletronica.policiacivil.sp.gov.br). Também é recomendável acionar o banco ou operadora de cartão de crédito para tentar o bloqueio da transação ou estorno do valor.

Atenção e desconfiança são indispensáveis diante de ofertas divulgadas por links externos e redes sociais. Informações sobre programas oficiais devem sempre ser confirmadas diretamente nos canais institucionais dos governos estaduais ou do governo federal.

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FRAUDE NA TRANSFERÊNCIA DE VEÍCULOS: GOLPES COM VEÍCULOS USAM BRECHAS EM SISTEMAS PÚBLICOS E DADOS VAZADOS

A clonagem de veículos no Brasil assumiu contornos sofisticados, distantes da tradicional substituição de placas. Hoje, quadrilhas utilizam mecanismos digitais para efetuar transferências de propriedade sem sequer ter contato com o veículo original. Isso é possível graças ao uso indevido de dados extraídos de sistemas públicos, como os dos Detrans e do Contran, que permitem acesso a informações completas sobre veículos e seus proprietários.

Com essas informações em mãos, criminosos realizam transferências eletrônicas diretamente nos sistemas, sem necessidade de vistoria ou apresentação física do automóvel. Essa prática tem afetado não apenas motoristas particulares, mas também grandes frotas de empresas, locadoras e até veículos de montadoras utilizados em ações promocionais.

O problema se agrava pela existência de brechas nos sistemas governamentais e pela atuação de agentes infiltrados que alimentam mercados paralelos, inclusive na chamada dark web, onde dados pessoais são comercializados de forma anônima e fora do alcance de fiscalização. O ambiente favorece práticas ilícitas, como a falsificação de documentos e a apropriação indevida de bens.

Esses golpes são praticados tanto por organizações criminosas estruturadas quanto por indivíduos que atuam de forma autônoma. Enquanto as quadrilhas utilizam os veículos clonados como parte de esquemas de lavagem de dinheiro, inserindo-os em empresas fictícias para justificar movimentações suspeitas, os estelionatários independentes exploram os veículos como garantia para obtenção de crédito fraudulento.

Entre os alvos mais visados estão as frotas internas de montadoras, especialmente aquelas associadas a ações de divulgação e campanhas de marketing, devido à ampla exposição de placas e dados nas redes sociais. Essa visibilidade facilita a coleta de informações para a clonagem. Em frotas corporativas, a fraude pode demorar mais a ser identificada, já que os veículos costumam circular por diversas regiões e a fiscalização interna nem sempre detecta inconsistências de imediato.

A descoberta da fraude normalmente ocorre quando o verdadeiro proprietário começa a receber notificações de infrações em locais onde o veículo jamais esteve ou ao ser surpreendido com alterações indevidas na titularidade junto aos órgãos de trânsito.

Para verificar se houve clonagem, é possível realizar uma consulta no site do Detran estadual ou no aplicativo Sinesp Cidadão, utilizando a placa, o número do Renavam ou, preferencialmente, o número do chassi. Essas ferramentas fornecem informações sobre o histórico do veículo, incluindo multas, registro de furto ou roubo e movimentações de propriedade, permitindo a detecção de irregularidades.

Diante da confirmação de fraude, a recomendação é registrar imediatamente um boletim de ocorrência e ingressar com pedido judicial para anulação da transferência indevida. Embora o processo possa ser iniciado nos Juizados Especiais sem a necessidade de advogado, a assistência de um profissional com experiência na área contribui significativamente para a celeridade e eficácia da resolução.

O núcleo do problema está na vulnerabilidade das instituições públicas quanto à proteção de dados. Embora a Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD) estabeleça diretrizes claras para o tratamento de informações sensíveis, os principais vazamentos continuam a ter origem justamente em bases de dados públicas. Enquanto essa estrutura não for reformada e dotada de mecanismos de segurança adequados, a prática da clonagem digital de veículos continuará se repetindo com relativa facilidade.