Publicado em

SEGURANÇA NA NUVEM: O TESTE QUE GARANTE A CONTINUIDADE DO SEU NEGÓCIO

A importância dos testes de recuperação de desastres nas operações em nuvem

Empresas que operam com serviços em nuvem dependem fortemente da confiança na segurança e continuidade de suas operações. No entanto, uma constatação recorrente entre profissionais da área de tecnologia da informação é que os investimentos ainda são insuficientes diante da complexidade dos riscos envolvidos.

74% dos líderes de segurança e TI acreditam que suas organizações estariam mais preparadas para lidar com ameaças virtuais caso houvesse maior dedicação de recursos à prevenção. O levantamento envolveu 825 entrevistados de empresas localizadas em diversas partes do mundo, incluindo o Brasil, e evidenciou um ponto de atenção: muitas empresas ainda não adotam práticas adequadas de gestão preventiva, o que as expõe a vulnerabilidades evitáveis.

Entre os problemas mais recorrentes está a ausência de testes regulares nos planos de recuperação de desastres. Mesmo entre empresas que contratam soluções em nuvem, é comum que os sistemas de recuperação não sejam devidamente avaliados quanto à sua eficácia. A testagem periódica desses recursos é essencial para garantir que as ferramentas contratadas realmente funcionarão em momentos de falha ou ataque, permitindo a continuidade das operações e a integridade dos dados.

Como exemplo de boas práticas, uma empresa farmacêutica do interior de São Paulo realizou um teste completo de recuperação de desastres no final de 2024. O procedimento foi executado durante o horário comercial, utilizando tecnologias especializadas para validar todo o plano de restauração. O objetivo do teste foi confirmar se a infraestrutura disponível seria capaz de restaurar o ambiente operacional de forma eficaz, dentro dos parâmetros acordados, como tempo de recuperação (RTO), ponto de recuperação (RPO) e ponto de restauração.

A execução de um teste desse porte vai além da simples verificação técnica. Trata-se de um processo que permite ajustar estratégias, identificar pontos de melhoria e promover segurança jurídica e operacional para a empresa. A documentação gerada ao final do teste se torna uma referência indispensável para futuras respostas a incidentes, especialmente em um contexto no qual a rotatividade nas equipes de tecnologia é elevada.

Validar periodicamente os sistemas de recuperação não apenas fortalece a capacidade de resposta diante de falhas ou ataques, mas também amplia a maturidade da gestão de riscos dentro das organizações. Ainda são poucas as empresas que realizam esse tipo de simulação de forma completa e documentada. Entretanto, trata-se de uma medida estratégica para preservar não apenas dados e infraestrutura, mas a própria continuidade do negócio.

Publicado em

SOBERANIA DIGITAL: O QUE O BRASIL PRECISA FAZER PARA PROTEGER SEUS PRÓPRIOS DADOS?

A relação entre soberania digital e política de dados no Brasil tem se tornado cada vez mais complexa. A ausência de uma estratégia tecnológica articulada a um projeto de desenvolvimento econômico tem deixado o país em posição de dependência no que se refere ao controle e uso dos dados gerados internamente.

Nos últimos anos, a governança internacional da tecnologia passou a ser um campo de disputa entre grandes potências. Os Estados Unidos e a China consolidaram-se como polos dominantes, enquanto a União Europeia, diante da ausência de gigantes tecnológicos próprios, optou por exercer influência por meio da regulação. A legislação europeia sobre proteção de dados, por exemplo, influenciou diretamente normas adotadas em outras regiões, inclusive no Brasil.

Esse movimento global colocou em xeque o papel tradicional dos Estados como principais agentes reguladores. À medida que as corporações transnacionais ampliaram seu poder sobre fluxos de dados e infraestrutura digital, os Estados passaram a dividir espaço com empresas que operam, muitas vezes, com maior influência que governos nacionais. Essas companhias, apesar de privadas, se envolvem diretamente em questões públicas, operando como verdadeiros centros de poder global.

O Brasil, nesse contexto, ainda apresenta deficiências na construção de uma política nacional de dados. Há carência de incentivos para o desenvolvimento de infraestrutura local, como centros de dados e serviços de nuvem operados internamente. Apesar de existirem empresas nacionais com capacidade para atuar nesse setor, as políticas públicas têm favorecido a entrada de capital e tecnologia estrangeiros sem assegurar mecanismos de controle nacional.

Enquanto outras nações buscam preservar sua autonomia digital por meio de investimentos públicos e desenvolvimento tecnológico interno, a estratégia brasileira recente tem se orientado pela facilitação de investimentos externos, inclusive com propostas que priorizam atores já consolidados globalmente. Isso pode ampliar a dependência tecnológica do país e reduzir sua capacidade de autogerir os dados que circulam em seu território.

Além da infraestrutura física, existe um componente jurídico relevante: muitas das empresas que prestam serviços de armazenamento e processamento de dados no Brasil estão sujeitas a leis internacionais que permitem que governos estrangeiros solicitem acesso às informações armazenadas, mesmo que fora de seu território. Isso compromete a efetividade de legislações nacionais voltadas à proteção de dados.

Para que o país avance em direção a uma autonomia digital efetiva, seria necessário estruturar uma política pública integrada que promovesse o fortalecimento de soluções nacionais, o uso de software livre, a proteção da jurisdição sobre dados sensíveis e o investimento em infraestrutura própria. A conectividade existente, com redes de fibra óptica e tecnologia 5G já em funcionamento, oferece uma base sólida. Falta, no entanto, uma articulação estratégica que una esses recursos a um projeto nacional de soberania digital.

Diante das escolhas que vêm sendo feitas, cabe refletir sobre o papel do Brasil nesse novo mapa de poder tecnológico global. Persistir como mero consumidor de soluções externas ou como fornecedor de matéria-prima digital representa um risco à autonomia. Ao contrário, promover o desenvolvimento de uma economia digital robusta e inclusiva, com estímulo à inovação local e preservação dos interesses públicos, pode colocar o país em rota de maior protagonismo e independência.